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Côa, Douro, Tua, Sabor, Salamanca, Régua, Porto

Do que resta da estação ferroviária do Côa não dá para imaginar que esta foi uma das portas de acesso ao Vale do Côa. Gravuras rupestres, Museu do Côa, Região Demarcada do Douro…alguém falou em património mundial?!

Estação do Côa

Estação do Côa

A segunda foto é da ponte ferroviária da (desactivada e arruinada…mas perfeitamente recuperável) Linha do Douro na foz do rio Côa: no canto superior direito, no cimo do monte, está lá o Museu do Côa, quase imperceptível por ser intenção dos seus arquitectos salvaguardar a paisagem.

Foz do Côa

Foz do Côa

A linha do Douro foi concluída nos últimos dias de 1887, doze anos após o seu início, tendo uma extensão de 200 km. Porém, cento e um anos depois foi amputado o troço entre o Pocinho e Barca D’Alva (quase 30 km), e quatro anos depois do encerramento da ligação internacional de Barca D’Alva a Salamanca (à volta de 70 km).

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Vista para o Pocinho, ponte rodoviária que liga Torre de Moncorvo a Vila Nova de Foz Côa e barragem hidroeléctrica do Pocinho.

Naturalmente, todos estes encerramentos sucessivos tiveram razões de ordem económica. O que quer dizer: falta de rentabilidade da linha.

Pode ser, mas se observarmos o mapa vemos ao longo duma linha ferroviária com menos de 300 km, cidades como o Porto e Salamanca (nos extremos), localidades centrais do Alto Douro como a Régua e o Pinhão, o vale do Côa com sua extraordinária paisagem, o inestimável tesouro arqueológico, o museu. Ou seja, na 2ª década do sec.XXI parece-me evidente que a rentabilidade da reabertura dos troços Pocinho-Barca D’Alva e Barca D’Alva-Salamanca pode ser obtida através do turismo e, por sua vez, sua reabertura irá ter um efeito dinamizador de toda a região.

Região que na verdade são várias e distintas regiões. Podia referir a proximidade das Arribas do Douro, a região de Lamego e Tarouca, os vales de rios como o Paiva, o Águeda ou o Tâmega.

Também podia simplificar, dizendo que o percurso de Porto-Barca D’Alva  é, provavelmente, o circuito mais extraordinário que Portugal tem para oferecer ao turista apreciador de arqueologia, história, gastronomia, vinhos, natureza, arquitectura, tranquilidade e beleza.

Circuito que pode fazer de barco, de carro, de comboio. Os mais endinheirados até têm a opção do helicóptero. Melhor ainda podendo combinar os diferentes meios de transporte. E ainda caminhar pelo próprio pé por montes e vales.

E que seria um bónus poder prosseguir viagem até terminar numa cidade tão especial quanto Salamanca. Depois de ter conhecido o Porto. Numa viagem que pode demorar um dia, como toda a vida.

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Só não digo por vergonha, porque tenho de omitir os vales dos rios Sabor e Tua, ambos bem representativos da beleza, fascínio e peculiaridade da grandiosa bacia hidrográfica do Douro (a maior da Península Ibérica).

A omissão deve-se ao facto de, neste preciso momento em que escrevo e tu, caro(a) Leitor(a), lês, esses mesmos vales estarem a ser arruinados pela construção de duas inúteis barragens hidroeléctricas. Inúteis é exagero, afinal alguém está a ganhar com isso, certamente.

Mas não a região, não o país. Já agora, nem o Mundo.

Quatro anos de Vivacidade

Há a dinâmica cultural dos grandes eventos, grandes instituições, dependente do mecenato, do Estado ou das fundações.

E há outra em (quase) tudo pequena, dependente da boa vontade e interesse dos que nela se envolvem como público e participante.

Ambas são imprescindíveis, complementares e, infelizmente, vítimas da Grande Crise. Galerias, tertúlias, academias, espaços, vão surgindo (e desaparecendo) pela vontade de realizar projectos pessoais ou colectivos, e a sua simples existência já é um “atestado de vida” a uma sociedade-cidade-cidadania que, no geral, peca pela passividade e conformismo.

O Vivacidade-espaço criativo , que  festeja hoje 4 anos de actividade, tem sido exemplar nessa dinâmica de escassos recursos, mas capaz de promover um variado e elevado número de actividades, envolvendo, ao longo de cada ano, agentes culturais, instituições, artistas e investigadores.

Concebido, criado e animado pela Adelaide Pereira, que se tornou uma referência nos meandros da cultura do Porto sem ser ela própria uma “artista”, nem ter tido ligação anterior ao mundo da cultura e das artes, o Vivacidade afirmou-se como um espaço criativo, aberto e com a extraordinária capacidade para impor, a si mesmo, uma agenda de eventos regular ao longo de todos estes 48 meses.

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Em quatro anos, semanalmente foi desenvolvendo acções de formação nas mais diversas áreas, visitas guiadas a lugares e monumentos da cidade (na maioria pouco conhecidos ou habitualmente fechados ao público), realização de exposições (pintura e fotografia), sessões de poesia e de cinema orientadas sempre por algum expert no assunto, programas culturais para crianças no Natal e na Páscoa, lançamento de livros, workshops de criação literária, fotografia e outras matérias, palestras/debates sobre os mais variados assuntos e por gente de extraordinário valor, recitais de música, teatro…

O “segredo”, acessível só a quem frequente este espaço, está na criatividade, curiosidade, dedicação e trabalho de todos os que nele participam, uns de forma regular, outros esporadicamente, mas sempre de modo generoso e dedicado.

Como diz o outro, a propósito destas questões da rotina e da falta de inspiração: o Vivacidade-espaço criativo é um “berro rebelde à vida torcida ao avesso/que urge despertar a cores num movimento/ vibrante/ de vivacidade“.

Parabéns!

a importância de andar com os pés bem assentes sobre rodas

Em tempos muito remotos, no início dos anos 80 do sec. XX, recordo como a bicicleta era coisa de desportista de estrada (mesmo na versão dos sexagenários tesos, que todos os fins-de-semana pedalavam perto duma centena de quilómetros pelo prazer de dar ao pedal) ou veículo da classe operária nas famosas pasteleiras, fabricadas algures no distrito de Aveiro.

Andar de bicicleta no Porto? Impossível, diria qualquer pessoa bem informada/bem formada.

Mesmo assim, alguns malucos iam para a Faculdade na bicla, havia um Departamento de Cicloturismo num grupo ecológico, faziam-se uns passeios para divulgar “a causa”, tudo actividades efémeras, marcadas ainda por um espírito “soixante-huitard”, nas vésperas dos gloriosos anos do Cavaquismo e do novo sonho português (betão-alcatrão-carrão).

Assim, para um velhinho desses tempos, não lhe é indiferente quando lê uma coisa como esta:

“Há décadas atrás, ainda a Internet não tinha chegado a Aldoar, o Velho Lau começou este blogue. Quer dizer, não foi assim há tanto tempo, mas parece.

A ideia, era ter um sítio que respondesse por si à pergunta que as pessoas me faziam permanentemente:

Porque carga de água andas de bicicleta na cidade?” (in Um pé no Porto e outro no Pedal)

Na verdade, a revolução dos hábitos urbanos não começa exclusivamente pelas nossas cabeças.

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Nota

sobre a feira do livro do Porto 2013

Quanto às notícias da não realização da Feira do Livro do Porto, ajudem-me a perceber, porque sozinha não consigo. (in time enough at last)

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Fotos da Inauguração da exposição de Portografia

Ver mais fotos no Imago Mundi.

No Museu do Vinho do Porto

PortoGrafia

fado triste

Nestes séculos da história recente da falta de auto-estima portuguesa, volta-e-meia surgem “corridas do ouro” tão típicas na ilusão, como no resultado. Veja-se este artigo do JN onde se fala dum programa de obras de barragens e como as oportunidades de negócio surgem como cogumelos em localidades algo remotas e esquecidas: os arrendamentos tornam-se mais lucrativos graças aos trabalhadores migrantes trazidos pela barragem; restaurantes e cafés idem, pela mesma razão. E os media ajudam à euforia dando a nota vibrante e optimista.

Daqui a um tempo, talvez dois, talvez 3 anos, as obras acabam e os trabalhadores já terão sido desmobilizados (desempregados?) e partido para outras terras. E seca estará a árvore das patacas. À semelhança de centos de casos semelhantes nas últimas décadas, o subdesenvolvimento será o mesmo do tempo anterior à barragem.

E a riqueza gerada pela barragem, sempre tão bem publicitada por governos, câmaras, etc? É ver a região do Alqueva, do Douro, e de todas as que sofreram semelhantes “corridas do ouro”. À excepção do turismo e da agricultura, que mais? Só que ambas actividades não dependem da barragem, e já lá “estavam” antes.

A barragem, pelo contrário, é que pode prejudicar a região. A curto e longo prazo.

Mas é da nossa falta de auto-estima insistir sempre nos mesmos erros. É o nosso fado. Como o texto abaixo relata, há tesouros e oportunidades douradas que são   prejudicadas por todos: população, autarquias, governo central…

Triste é perceber que o Porto vira destino turístico com o apoio de uma empresa estrangeira e a quem o Estado dificulta a vida.

Que a cidade reanima o seu centro com novas lojas e habitação com a iniciativa privada (possível) e que as entidades de licenciamento continuam a dificultar e a impor regras que não se aplicam. Que a excelente movida nocturna, que também já veio publicitada na comunicação estrangeira, não tem regras de convivência com a cidade e não há quem as saiba fazer. Que recebemos turistas e vivemos uma cidade que não liga ao seu Património, às suas margens e trata cada lado do rio como se dois feudos se tratassem. Que os buracos imperam em todas as ruas da cidade e só se asfalta o trecho do autódromo do Parque da Cidade.

Não continuo porque afinal a época é Natalícia e será melhor fazer de conta que há que “adoçar”. (Alexandre Burmester in A Baixa do Porto)

“opções de desenvolvimento erradas, com centralismos irremediavelmente desfasados da realidade”

Se repetirem o exercício (abstrato) de desenharem uma circunferência com um raio de 80 km centrada em Lisboa, encontram cerca de 3,45 milhões de pessoas, quase um terço da atual população total do país, 10,6 milhões. Mas se desenharem igual círculo à volta do Porto, encontram cerca de 3,77 milhões. Mais de um terço da população.(…) A demografia diz-nos pouco do poder real das regiões, mas é clara neste aspeto: o Porto é o centro populacional do país. (in Nuno Gomes Lopes)

Infografia de Nuno Gomes Lopes onde se desenham circunferências  com raios iguais centradas no Porto e em Lisboa e respectiva cobertura demográfica.

setembro

Neste final de Verão, assim a modos que xôxo, verifico que já no ano passado o Verão de 2010 não foi diferente. A bem dizer, no canto noroeste da Ibéria…porque por outras paragens a canção será outra.

Mas o tempo que faz e o tempo que temos, são só aspectos do Tempo que passa. Importante, mesmo, é ser a tempo.