
Há anúncios que parecem deixar indiferentes a maioria das pessoas, ao contrário do que acontecia alguns (muito poucos, aliás) anos atrás. Água mole em pedra dura? Tolerância? Decandência dos costumes? Tabú? Pela minha parte, creio que o problema mesmo são os créditos do mensageiro.
Ainda há dias outro mensageiro disse umas coisas (As florestas tropicais merecem a nossa protecção, certamente, mas não menos a merece o homem como criatura, p.ex. ) e fez-se um zum-zum-zum a respeito da sua alegada equiparação das “ameaças” ao casamento heterosexual com a crise ecológica global que ameaça milhares de espécies animais. Se for o caso dele ter dito isso (ou isso querer dizer), não me preocuparia muito porque a Humanidade sempre se perpetuará nem que seja à custa dos chamados filhos “ilegítimos”, de pai “anónimo” ou, simplesmente, “naturais” ( e o que é natural é bom*).
Provavelmente, a eventual decadência dos costumes e a minha convição no futuro da Humanidade assentam em verdades muito triviais como aquela que deixou um pobre académico perplexo:
David Buss, professor of psychology at the University of Texas, in his book The Evolution of Desire tries to unravel the mystery of the female orgasm. He is apparently perplexed because it has nothing to do with reproduction and appears to have no other function except to give a woman pleasure – hence the existence of the clitoris, “useful” only for female sensory delight. (Yvonne Roberts in The Guardian)
Ou seja, que a cultura e sociedade humana possam aumentar o leque das possibilidades que os constrangimentos (naturais, obviamente) da Evolução favorecem, so much for Darwin…nada, evidentemente, que um troubadour não tenha dito já:
Mas como pod’achar bõa razon
ome coitado que perdeu o sen
com’eu perdi? e quando falo, ren
ja non sei que me digo, nen que non!
E con gran mal non pod’ome trobar!
E prazer non ei se non en chorar!
E chorando nunca farei bon son!
(Paay Gomes Charinho)
E assi morrerei por quen
nen quer meu mal, nen quer meu ben!
(Nuno Fernandes Torneol)
(*) É sempre interessante verificar a força dos velhos adágios, tal como aquele que diz ser “preciso mudar alguma coisa para que tudo continue na mesma”. Antigamente, ou seja no século passado, ainda se pregava o controlo dos instintos (entenda-se: sexualidade, natureza) pelo espírito (ou razão entendida no sentido moral); hoje, pede-se o controle das tendências culturais (ou mentalidades) em nome das “leis naturais”.
** Ambas cantigas do Cancioneiro da Ajuda
Gostar disto:
Gosto Carregando...
ecos de outros mundos