Archive for Março, 2008
jogos sem fronteiras
É motivo de permanente fascínio as medidas de liberalização nas sociedades autoritárias, politicamente antidemocráticas. A mais extraordinária, sem dúvida, foi a tentada no periodo da perestroika, na já longínqua década de 80 do século passado.
Actualmente, e desde algumas décadas atrás, os mandarins chineses procuram a quadratura do circulo, tentando conciliar o poder exclusivo duma élite com a liberdade económica e o consumismo. Se tivessem lido Marx, já teriam noção dum dos seus axiomas básicos: alterações na infra-estrutura (leia-se: a correspondência entre as relações de produção e as forças produtivas) implicam necessariamente alterações na superestrutura (leia-se: as instituições políticas e jurídicas, o Estado, as ideologias, a cultura, etc).
“La rutina es bien difícil…”
(…)el tensionamiento, la exageración, la solicitud de la excepción o el privilegio no gustan en una sociedad cuya cultura cada vez es más secular, que no necesita planteamientos salvíficos, que se orienta por el pragmatismo y que, asegurado el mantenimiento de lo peculiar, asume la racionalidad y las ventajas de la igualdad compartida. (JUAN JOSÉ SOLOZÁBAL)
sobre o telemóvel do Carolina

Do que vi no famigerado vídeo, tenho de concordar que o mais chocante é a atitude colectiva dos alunos que presenciaram a cena. Vou por partes:
1) a “brutalidade” propalada é deveras “decepcionante”, e é lamentável que se crucifique a rapariga pelas imagens que passaram. Não que esteja isenta de responsabilidades por ter menos de dezasseis anos, mas por outras razões que exponho adiante.
2) já ouvi e li críticas à actuação da professora, e concordo que podia ter actuado de outro modo. Mas, receio bem que não tenhamos (nós, sociedade, nós, portugueses, nós, cidadãos contribuintes-eleitores, nós, encarregados de educação) autoridade para exigir que um professor enfrente sozinho problemas desta natureza.
3) o comportamento colectivo dos alunos, entre a chacota e a passividade, ainda que com tímidas e isoladas tentativas de mediação, é o reflexo da falência da Escola como local de formação cívica. E isso nem é de hoje. (mais…)
vida de cão
Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, mas às vezes é bom lembra-lo.
Que o cão é o melhor amigo do homem, não discuto, e até posso concordar que o maior perigo nos cães das chamadas “raças perigosas” reside nos donos (ou por que raio de razão haverão de escolher, para bicho de estimação e guarda, logo uma raça conhecida pela sua agressividade?).

ressureição de Lázaro
O filme Joyeux Noël (2005) relata um episódio verídico passado na Iª Grande Guerra, impossível de imaginar numa época de exércitos profissionais: a confraternização, amizade e cumplicidade dos combatentes em trincheiras opostas. O que, em qualquer época, é sempre encarado como alta-traição.
abstinência eleitoral
Volta e meia sinto o ego nacional em baixo porque muitos portugueses são abstémios em dias de eleições/referendos. Principalmente em épocas de praia e férias. Falta de cidadania, cultura política, motivação ou coisa que o valha.
Aqui ao lado, numa eleição nacional com ingredientes tão variados como o nacionalismo espanhol versus outros nacionalismos, a intervenção pública e tendenciosa da Igreja Católica, o terrorrismo da Eta e suas vítimas (fazendo mais uma em vésperas do acto eleitoral), a taxa de abstenção foi significativamente elevada (quase 25%).
Mais ao lado, se passarmos os Pirinéus, e sem casos dramáticos, as eleições municipais igualmente registam valores altos de abstenção (39%).
ecos de outros mundos