A libertação dum homem, por razões humanitárias motivadas pelo cancro que o irá brevemente matar, preso sob a acusação de ter participado no acto de terrorismo que vítimou quase três centenas de pessoas, é o típico caso polémico: vítimas (se as houvesse vivas) e familiares/amigos das vítimas (que são também outras vítimas), naturalmente não se conformam; as autoridades responsáveis sublinham o sentido moral da decisão; a opinião pública, especializada e outras dividem-se.
Para ser libertado, o homem teve de reconhecer a culpa que nunca assumira: típico ritual judicial para amenizar uma condenação, já que poupa tempo e dinheiro. Como o próprio reconhece, antes do diagnóstico da doença nada tinha a perder com o apuramento de toda a verdade. Agora, diz, sua memória será associada irrevogavelmente à autoria do crime que outros cometeram. Curiosamente, este é o tema central da famosa peça de Arthur Miller “The Crucible”, que culmina com a recusa dum acusado em admitir a culpa para se livrar da morte; e Miller estava a pensar nas vítimas do senador McCarthy. (mais…)
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