Verão cultural
Um dos privilégios da minha vida é o de poder gozar, com alguma frequência, fins-de-semana numa zona rural algures no sudoeste europeu, finais de tarde à beira-mar numa praia do nordeste-atlântico ou um dia inteiro a passear por um dos grandes rios ibéricos. Privilégios de quem reside no litoral sul da região galaico-portuguesa.
Apesar desta diversidade geográfica, em todos estes lugares posso usufruir do mesmo gosto cultural pela música gravada, geralmente com uma qualidade algo peculiar, que me chega de localidades “em festa”, dos bares da praia por onde passeio, do próprio barco que faz o percurso do rio.
A qualidade do som pode variar (muito mau nas aldeias, mau nos barcos e sofrível nas esplanadas de praia), o reportório vai do pimba (os barcos) ao pseudo-folclórico (as festas de aldeia) e a estilos mais ecléticos desde o pop dos anos 80 a temas jazzísticos (os bares), mas a ubiquidade do ruído (musical) é, de facto, a prova da tenacidade cultural das multidões estivais que celebram o convívio, a festa, o escape.
Cultura versus (evidentemente) Natura. Quem está para escutar o piar irritante dos passarinhos, o silêncio enervante das margens do rio (se calhar o rio até tem os seus ruídos próprios, mas é impossível afirmá-lo sob a torrente de canções porno-pimba que os barcos debitam) ou o barulho monótono do mar?
ecos de outros mundos