jornalismo de investigação
Nesta aldeia, a população não gosta de falar no assunto. Certo é que o homem “andava sempre debaixo de olho e de cada vez que aí vinha bebia mas nunca pagava nada”, comenta-se na taberna da aldeia.
O pastor conta que nunca recebeu um tostão. “Fartava-me de apanhar pancada.” À noite, “dormia num curral e mal raiava o sol voltava ao trabalho”. Por diversas vezes fugiu. “Mas ele vinha-me sempre buscar.” A família do homem confirma. “Passaram-se anos sem o ver. Quando aparecia estava faminto, sujo e roto. Depois abalava com o patrão que o vinha buscar”, diz a irmã. Numa das vezes que “esteve mais tempo em casa, tratei-lhe da reforma mas ele acabava por ir embora com o patrão”, adianta Fátima Marques. (in DN)
Por toda a Europa se vão sabendo casos de exploração de trabalho escravo ou da brutalização de trabalhadores migrantes por redes organizadas. Para não falar do caso mais específico e macabro do tráfico de seres humanos para exploração sexual. Mas esta história, lida em diversos jornais, ainda não responde a uma pergunta muito simples: nunca havia passado pela cabeça do pastor, numa de suas anteriores fugas (e da sua família ou das pessoas que o conheciam), dirigir-se a um posto da GNR e queixar-se?
Até posso imaginar algumas respostas para a mesma pergunta, cada qual a mais deprimente, mas nem é isso que me leva a chamar o assunto para aqui. O que mais me impressiona é ler em vários jornais o mesmo relato e, aparentemente, todos os jornalistas envolvidos na elaboração da notícia não se questionarem (e ao pastor) como foi possível só ao fim de 14 anos tomar a atitude que tomou.
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