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escola portuguesa

Há dias assim: entro mudo e saio calado.

Presente numa reunião de pais, convocada pela directora de turma da minha filha, como é habitual no início de cada período escolar (10º ano), tive imensa vontade de falar conforme ouvia pais, directora e pensava no que a minha filha me dissera na véspera. Mas, quanto maior a vontade de falar, menos vontade em falar.

 

Diziam os pais:

“A prof Fulana continua (desde o primeiro dia de aula) a desmotivar os alunos com sua incapacidade pedagógica e comportamento descuidado. Provavelmente porque já se está marimbando para tudo isto.

O prof Beltrano e a prof  Sicrana têm um relacionamento complicado, agressivo, não ajudando os alunos com mais dificuldades, não estimulando alunos que, às mesmas disciplinas e em anos anteriores, tiravam melhores notas do que agora, etc e tal. Pior: comparativamente com outras turmas, às mesmas disciplinas e com outros prof’s, as notas destes alunos estão baixas e nada o justifica.

Por este ou aquele caso, dá que pensar se os critérios de avaliação são idênticos. 

Aliás, esta escola é avara nas notas, desmotivando os alunos. A ponto de muitos pensarem em mudar para outra, senão mesmo para colégio ou externato onde as notas são mais favoráveis e terão peso para a entrada nos cursos universitários de primeira escolha. Quem já teve filhos aqui a estudar, nunca antes se deparou com este desalento e vontade de mudança.

Além do mais, as turmas são demasiado grandes para haver um acompanhamento mínimo do trabalho de cada aluno.

Porque é que a escola não convoca os pais para reuniões extraordinárias, havendo tanto assunto para debater?”

A directora replicou:

“A prof X queixa-se que os alunos estudam pouco, que há dois grupos distintos em qualidade, a generalidade dos prof’s queixam-se desta turma ter um comportamento imaturo, infantil até, falhando a maioria na entrega de trabalhos de casa, em trazer material. Ah, e os telemóveis…

Se sentem dificuldades não é por falta de apoio fora do horário de aulas (mas, raramente aparecem). Depois, o comportamento, os trabalhos de casa, tudo influencia a avaliação no final do período ( e eles sabem disso). Que ninguém pense que a escola vá mudar os seus critérios de avaliação, comprovadamente uniformes, por insatisfação dos alunos ou receio de se transferirem para outras escolas (nos exames nacionais se verá quem está preparado e quem não está).

Quanto à prof Fulana, depois das queixas do 1ºperíodo, todas as diligências possíveis foram feitas por parte da escola. Continuam os pais a queixarem-se? Terão de fazer uma reclamação escrita, a situação terá de ser levada a uma instância exterior à escola, superior ao conselho directivo.

 Se os pais reconhecem haver problemas, porque não tomam iniciativa de convocar reuniões? Um só encarregado de educação basta para tal.

De facto, o ministério impõe turmas de 28 alunos nesta escola. Como se sabe, várias escolas têm fechado na cidade…”

Que me havia dito minha filha, na véspera, para que eu transmitisse na reunião? Pois, exactamente o que os pais que se pronunciaram disseram no dia seguinte.

Mas eu calei-me. Porque me sentia responsável, porque compreendia os argumentos da directora, assim como simpatizo com as dificuldades dos professores.

A escola justifica o investimento dos pais, da comunidade local, da autarquia, para além do que compete ao ministério, professores e alunos. Isso não acontece. Em primeiro lugar porque não existe sentimento comunitário no local de inserção da escola (meio urbano incaracterístico, relacionamento impessoal, participação anónima); depois porque a autarquia não está presente; finalmente porque os pais estão ausentes todo o tempo.

Desinteresse dos encarregados de educação? De modo algum: a maioria mantém contacto com a directora de turma, cada um tenta acompanhar o melhor que pode e sabe o percurso escolar dos filhos. E não chega, como se vê.

Imagino os conselhos directivos extremamente condicionados na gestão dos parcos recursos, limitados por regulamentos e directivas obsoletos, enquadrados por um ministério que lida com os grandes números e age estatísticamente (e não me refiro à ministra, nem a anteriores responsáveis). Provavelmente, sem o apoio local da autarquia (para umas simples obras, para uma programa cívico de vulto a nível da comunidade). 

Imagino os professores, cada qual responsável pela acção pedagógica e cada qual esgotado no atrito da disciplina necessária, frente a uma turma de 28 alunos. Quantos responsáveis, noutras áreas, terão de lidar sozinhos, hora a hora (ou de 90 em 90 minutos), com grupos tão numerosos e sempre diferentes ao longo do dia?

Enquanto me calava, ouvindo os outros, ainda tive vagar para pensar como todas as partes estavam certas no que diziam.

Que o “ovo de Colombo” está nas nossas mãos e, paradoxalmente, ultrapassa largamente o âmbito escolar de pais-alunos-professores. Que esta situação provoca desalento em todos os intervenientes, certamente prejudica os alunos e, fatalmente, o país de hoje e de amanhã. Que a responsabilidade é dos governos e quem os elege, das oposições e quem por elas vota. Dos abstencionistas também.

Assim consolado, calado, regressei a casa cheio de vontade em escrever um post.

 

 

Comentários a: "escola portuguesa" (2)

  1. eu gostaria que aparecesse um pequeno comentário sobre a escola portuguesa sff.

  2. eu gostaria que aparecesse um pequeno comentário sobre a escola portuguesa sff.
    e não sobre a prof fulana

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